CADERNO «EU CANTO PARA QUE OS DESERTOS FIQUEM À SOMBRA»
Trata-sede um cadernopolicopiado, com 80 páginas,que foi criado e difundido em 1969. Este que aqui divulgamos é a segunda edição e foi lido e guardado pela sua proprietária, Maria da Conceição Figueiredo Sobreira (nascida em 1948). Apresenta textos introdutórios anónimos e letras de canções de intervenção de autores como Manuel Alegre, José Afonso, Manuel Freire, Chico Buarque, Reinaldo Ferreira, Daniel Filipe, José Saramago, entre outros.
Dele fala assim Conceição Figueiredo Sobreira no seu livro manuscrito da coleção Rebuscar o Tempo: “A frase com que intitulo esta crónica [Eu Canto Para Que os Desertos Fiquem à Sombra] faz parte da capa de cor castanha de um caderninho que tem colocado no lado esquerdo o desenho de um cato (com picos) com uma flor vermelha. Na contracapa, da mesma cor, lê-se a seguinte frase: «Erguei-vos, levantai a cabeça porque a vossa libertação está próxima – Lucas 21-28». Além de várias frases, neste género, do tempo da ditadura salazarista, está recheado de letras e músicas de José Afonso, letras de Manuel Alegre com música de Manuel Freire, canções e música de Adriano Correia de Oliveira e outros. Este caderno (como lhe chamam na introdução inserida como adenda ao mesmo) tem 80 páginas. Não consta do mesmo o nome de quem o realizou. Estas canções e outras também revolucionárias já se cantavam antes da Revolução do 25 de Abril. Tinha em disco de vinil algumas, que ouvia com muito agrado e que também cantava.
Como foi este caderninho parar às minhas mãos? Foi a minha irmã que mo ofereceu nos anos 60 do século passado. Estava hospedada na casa de uma colega e amiga de trabalho, cuja família era contra o regime vigente naquele tempo. Como passaram muitos anos, a minha irmã não se recorda como o adquiriu. Não se lembra se lho ofereceram, se o comprou nalguma das livrarias que na clandestinidade os vendiam. Eram uns cadernos pobres, pois eram certamente pagos pelo(s) seu(s) autore(s). Guardei-o sempre e continuarei a guardá-lo.
Na primeira página, estão inseridas as seguintes palavras: «Quem poderá proibir estas letras de chuva/que gota a gota escrevem nas vidraças/Pátria viúva/a dor que passas». Na segunda página poderá ler-se: «Só cantando se pode incomodar/Quem à vileza do silêncio nos obriga/ Eu venho incomodar/Trago palavras como bofetadas/E é inútil mandarem-me cantar».
Também fazem parte deste caderninho umas palavras a que chamam «Introdução a um diálogo crítico», de que passo a «gravar» as seguintes palavras:
É uma segunda edição.
Esta colectânea tem interesse. Todos concordamos que ela fazia falta.
O sector principal a que o caderno se dirigia, os operários, o aceitou e percebeu bem.
Termino este pequeno resumo com as seguintes palavras «Se isso for geral conseguimos o nosso objectivo. O responsável pelos livros junto dos operários disse-nos que os cadernos se destinavam principalmente aos operários e afinal para os intelectuais foi a maior parte».”